domingo, 19 de abril de 2009

Bo e as cuecas japonesas

O cão do Presidente Obama está de novo na berra. Não há telejornal ou revista que se preze que não mostre as alegres fotos do “Bo” ao lado do seu dono. Parece até que um organismo de imprensa norte-americano vai fazer uma reportagem sobre os portuguesíssimos avós do cão de água. É que o exemplar, apesar de raça nacional, nasceu em solo americano. Portanto, é de toda a conveniência e interesse uma reportagem sobre os familiares do cão. Estou na verdade até um pouco admirado de não ter sido um orgão de imprensa português a lembrar-se disto, e de como seria bom para o orgulho nacional...
Há, no entanto, qualquer coisa de errado no íntimo nacional... As pessoas andam preocupadas. Aflitas mesmo. Voltou a falar-se de fome em Portugal... Não há dinheiro para pagar as dívidas, as prestações... Para ir ao supermercado. Corta-se em tudo. Aumenta o crime.
Há dias, li a notícia num jornal de uma criança de 9 anos que coagia os colegas de escola e os molestava sexualmente... Encurralava os mais novos, levava-os para a casa de banho e ameaçava-os de morte, para não contarem a ninguém. Isto passou-se cá, no nosso Portugal. Com nove anos. Como é isto possível?... Curiosamente, no mesmo dia, vi um episódio da série CSI. Gosto daquilo. Claro, que a ficção é muito distante da realidade, mas não é isso que me leva a ver a série. É a preponderância dos bons. Devia ser um episódio repetido, certamente. Mas como quase nunca vejo TV, não faz mal. Era sobre um crime ocorrido num reformatório, ou num centro de detenção juvenil. Um nome mais sonante para dizer a mesma coisa. O que me choca é a parte do juvenil...
Como é que chegámos ao ponto civilizacional em que trancamos os juvenis em prisões por actos de dliquência e crimes? Será que ninguém pergunta o que foi que fizémos errado? De quem é a culpa?
O que se passa connosco? Com os pais, que deixaram de saber educar os filhos, e recorrem a miríades de livros de especialistas para saber como fazer?... Ninguém repara no descalabro disto? Não sabem como se educa os filhos... O que se passa com a sociedade, que se demite? Ou melhor, que responde reactivamente (fazem-se prisões e mudam-se as leis para criminalizar actos cada vez em mais tenra idade), em vez de procurar ver ao longe e procurar as causas! Entende-las e combatê-las. Travá-las antes das consequências. Mas não. Perde-se demasiado tempo em debates. Junta-se comissões, planeiam, planeiam, pensam, pensam, reunem, reunem, e fazem um relatório final. O erário público gastou mais uns cobres e há-de haver um ministro qualquer que depois vem pomposamente anunciar as conclusões. E pronto. Tudo como dantes.
É assim no nosso querido país. Valham-nos as boas notícias do Bo. Parece que inclusivamente vai editar um livro (?)... Ora aí está uma coisa que eu quero ver. Ah, e a notícia de que os japoneses inventaram umas cuecas que eliminam os maus cheiros. Digam lá se isto não é uma daquelas coisas capazes de mudar o mundo?

sábado, 11 de abril de 2009

As férias da Páscoa

Andamos todos atarefados. A corrida da Páscoa, para fugir à cidade e regressar às origens, onde se vai celebrar tradições que já não nos dizem nada, e de que não entendemos o significado, mas das quais somos todos piamente devotos. Pelo menos durante uns dias.
E podemos dar-nos ao luxo de esquecer que a vida vai mal e que o mundo vai mal.
Não vale de muito pormo-nos em lamentações. A vida vai continuar mal e o mundo também. A diferença pode estar na atitude.
Li há dias, num dos jornais gratuitos que puseram os portugueses a ler nos transportes, a notícia de dois jovens, de onze anos (onze!) que espancaram dois colegas, de nove e onze anos. O móbil desta briga parece ter sido o facto de se terem recusado a entregar os ténis, o dinheiro que levavam e os telemóveis. O mais novo foi encontrado a deambular numa rua, todo ensanguentado. O outro, semi-incisciente numa ravina. O mais novo teve de ser operado, o mais velho transportado de helicóptero com um traumatismo craniano. Os rapazes usaram tijolos, facas e murros.
Aconteceu esta semana, numa localidade do Reino Unido, Parece longe, mas não é.
Há várias perguntas que me saltam de repente... Mas duas deixo aqui: como é que se chegou a este tipo de atitude? De quem é a culpa?
A culpa é nossa, claro está. Da sociedade. Partindo do princípio que a sociedade somos nós, que a construímos e regulamos, alguma coisa devemos estar a fazer muito mal... E esta atitude, esta violência gratuita, não está sozinha nem isolada. Olha para o lado. Repara no que vês todos os dias. E pensa no que isso significa.
A mudança começa agora. É este o tempo. Não o amanhã. Amanhã pode ser demasiado tarde. E começa em cada um. Em ti.
Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.
Boas festas da Páscoa.